Doença de Alzheimer e Saúde Bucal: Entenda Como Estão Ligadas
- Márcio Luiz Cantador
- 8 de jun.
- 5 min de leitura

Quando falamos sobre a Doença de Alzheimer, muitas pessoas pensam apenas nos esquecimentos, na confusão mental ou na dificuldade de reconhecer familiares. De fato, esses são sintomas muito marcantes da doença. Mas o que pouca gente sabe — e que é extremamente importante — é que a saúde bucal também tem uma ligação direta com o Alzheimer, tanto no seu surgimento quanto na sua evolução.
Cuidar da saúde da boca não é apenas uma questão de estética ou conforto. É também uma questão de saúde cerebral, qualidade de vida e prevenção. Neste texto, você vai entender:
• O que é o Alzheimer e como ele afeta o paciente;
• Qual é a relação entre Alzheimer e a boca;
• Por que pacientes com Alzheimer precisam de atenção especial com os dentes e gengivas;
• Como familiares e cuidadores podem agir;
• E como manter a saúde bucal como aliada na prevenção e no cuidado com essa doença.
O Que É a Doença de Alzheimer?
A Doença de Alzheimer é um distúrbio neurodegenerativo progressivo — ou seja, é uma doença que afeta o cérebro, destrói as células cerebrais com o tempo e não tem cura. É o tipo mais comum de demência e afeta milhões de pessoas no mundo todo, principalmente idosos.
Com a evolução da doença, a pessoa começa a apresentar:
• Perda de memória (sobretudo recente);
• Dificuldade de realizar tarefas simples do dia a dia;
• Problemas de linguagem;
• Alterações de humor e comportamento;
• Desorientação no tempo e no espaço;
• E, nos estágios mais avançados, perda total da autonomia física e mental.
Como a Saúde Bucal Está Ligada ao Alzheimer?
1. Pessoas com Alzheimer têm maior risco de problemas bucais
À medida que a doença evolui, o paciente perde a capacidade de manter a higiene bucal adequada. Esquecer de escovar os dentes, não saber mais como usar o fio dental, ou até mesmo resistir à ajuda, são comportamentos comuns. Isso leva ao acúmulo de placa bacteriana, gengivite, cáries, perda de dentes, infecções na boca e mau hálito.
2. Problemas bucais podem agravar o Alzheimer
Estudos científicos indicam que infecções crônicas na boca, como doença periodontal (gengivite e periodontite), liberam bactérias e inflamações na corrente sanguínea que podem atingir o cérebro. Isso aumenta a inflamação cerebral e pode acelerar o declínio cognitivo.
Em outras palavras: a gengiva inflamada pode “alimentar” a inflamação do cérebro.
Uma bactéria chamada Porphyromonas gingivalis, presente em casos graves de periodontite, já foi encontrada em tecidos cerebrais de pacientes com Alzheimer — e isso levanta hipóteses sobre um possível papel das infecções orais no surgimento ou agravamento da doença.
3. Má alimentação causada por problemas bucais prejudica o cérebro
Pacientes com dor de dente, prótese mal adaptada ou gengivas doendo passam a comer menos ou escolher alimentos de baixo valor nutricional (macios, processados, industrializados). Isso gera desnutrição, falta de vitaminas importantes para o cérebro e até perda de massa muscular.
Quais São os Problemas Bucais Mais Comuns em Pacientes com Alzheimer?
• Cáries múltiplas (especialmente em dentes que pareciam saudáveis);
• Doença periodontal (inflamação e sangramento na gengiva, que pode levar à perda óssea e dos dentes);
• Boca seca (causada por medicamentos ou dificuldade em beber água);
• Candidíase oral (infecção por fungos, muito comum em idosos);
• Próteses mal adaptadas ou esquecidas na boca durante a noite;
• Hálito forte (mau hálito persistente);
• Dificuldade de mastigação e deglutição.
Por Que Cuidar da Boca é Tão Importante para Quem Tem Alzheimer?
A saúde bucal influencia diretamente em aspectos essenciais da vida do paciente:
• Bem-estar e conforto: dor de dente ou gengiva machucada causa sofrimento;
• Alimentação e nutrição: uma boca saudável garante que o paciente consiga comer bem;
• Fala e socialização: mesmo com limitações, um sorriso saudável favorece a comunicação;
• Prevenção de infecções graves: infecções bucais podem causar infecções generalizadas em idosos;
• Evita hospitalizações desnecessárias: infecções na boca são causas comuns de idas ao hospital em idosos frágeis.
Cuidados com a Higiene Bucal em Pessoas com Alzheimer
À medida que a doença avança, os cuidados com a boca deixam de ser responsabilidade do paciente e passam a ser função do cuidador, familiar ou profissional de saúde.
Etapas do cuidado bucal em cada fase da doença:
Fase leve:
• O paciente ainda escova os dentes, mas precisa de lembrança e supervisão.
• Use escovas de cabo grosso, pastas com flúor e fio dental com haste.
Fase moderada:
• O paciente não consegue mais realizar sozinho a escovação.
• É necessário ajuda direta para escovar e passar fio dental, sempre com calma e paciência.
Fase avançada:
• O paciente pode resistir aos cuidados ou não abrir a boca.
• Técnicas específicas, paciência, escovas infantis ou de dedo e higiene simplificada são fundamentais.
Além disso, manter consultas regulares com o dentista, mesmo em pacientes acamados ou com dificuldades motoras, é essencial. Dentistas podem avaliar, orientar os cuidadores e fazer limpezas periódicas.
Dicas Práticas Para Familiares e Cuidadores
• Estabeleça uma rotina: higiene bucal no mesmo horário todos os dias ajuda na aceitação;
• Use espelhos: o paciente pode imitar os movimentos ao se ver;
• Fale com calma e explique o que está fazendo;
• Use produtos simples e sem sabor forte (evite pastas muito mentoladas);
• Evite excesso de água ou enxaguantes se o paciente tiver dificuldade para engolir;
• Leve ao dentista com frequência — o profissional pode orientar e tratar precocemente qualquer problema.
A Saúde Bucal Também Pode Ajudar na Prevenção?
Sim! Embora a Doença de Alzheimer ainda não tenha cura, existem fatores de risco que podem ser controlados. A saúde bucal está entre eles. Manter a boca saudável ao longo da vida é uma atitude preventiva, pois:
• Reduz inflamações crônicas no corpo;
• Previne doenças cardíacas e cerebrais;
• Evita infecções que podem afetar o sistema nervoso;
• Mantém a nutrição e a qualidade de vida.
Em pessoas saudáveis ou com histórico familiar de Alzheimer, cuidar da boca pode ser mais um pilar de proteção à saúde cerebral.
Conclusão: Cuidar da Boca Também é Cuidar da Mente
A Doença de Alzheimer traz grandes desafios para os pacientes e suas famílias. Mas uma das formas de proporcionar mais conforto, dignidade e qualidade de vida está na boca. Manter os dentes e a gengiva saudáveis ajuda na alimentação, no bem-estar, na autoestima e, possivelmente, até na desaceleração da progressão da doença.
Por isso, se você cuida de alguém com Alzheimer — ou deseja se prevenir — inclua a saúde bucal na sua rotina de cuidados. Converse com um dentista, informe-se e não subestime o poder de um sorriso saudável.
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