Odontologia é Medicina?
- Márcio Luiz Cantador
- há 4 dias
- 4 min de leitura

Por Que em Alguns Países Dentista é Considerado Médico, e no Brasil Não?
Você já se perguntou por que, em alguns países como Estados Unidos, Alemanha ou Reino Unido, a odontologia é tratada como uma especialidade médica, enquanto no Brasil o dentista faz um curso separado da medicina, com uma formação independente?
A dúvida é comum e, ao mesmo tempo, cheia de história, cultura e diferenças no modo como os países enxergam o corpo humano, a saúde e a profissão de cirurgião-dentista.
Neste texto, vamos esclarecer:
• O que é a odontologia e por que ela é uma ciência própria;
• Como funciona a formação do dentista no Brasil x outros países;
• Por que alguns países tratam o dentista como “médico da boca”;
• As vantagens e desvantagens desses modelos;
• E o que isso representa para o paciente brasileiro.
O Que é a Odontologia?
A odontologia é a ciência e arte de prevenir, diagnosticar e tratar doenças e condições que afetam a boca, os dentes, as gengivas, a língua, os ossos da face, as articulações da mandíbula e os tecidos adjacentes.
Mas ela não se limita só aos dentes: a odontologia moderna também cuida da estética do sorriso, da respiração, da mastigação, da postura facial e da interação da boca com todo o corpo.
Por isso, é uma profissão complexa, técnica e extremamente detalhista — e exige um profissional altamente treinado.
A Formação do Dentista no Brasil
No Brasil, para ser dentista é necessário cursar Odontologia, um curso superior com duração média de 5 anos. Durante esse tempo, o aluno aprende:
• Anatomia e fisiologia da cabeça, pescoço e face;
• Diagnóstico clínico;
• Técnicas de restauração, extração, ortodontia, próteses e cirurgias;
• Tratamento de doenças como cárie, gengivite, periodontite, câncer bucal, entre outras;
• Prática clínica intensiva.
Depois da graduação, o dentista pode se especializar em áreas como cirurgia bucomaxilofacial, endodontia, ortodontia, implantodontia, odontopediatria, harmonização orofacial, entre outras.
A odontologia brasileira é considerada uma das melhores do mundo, tanto em formação quanto em tecnologia e qualidade de atendimento.
E em Outros Países?
Em alguns países — principalmente os de língua inglesa e Europa Central — a odontologia é tratada como uma “ramificação” da medicina.
Veja alguns exemplos:
Estados Unidos
• O curso de odontologia vem depois da graduação em algum curso de ciências da saúde (biologia, química, etc.).
• O dentista recebe o título de DDS (Doctor of Dental Surgery) ou DMD (Doctor of Dental Medicine).
• A formação tem forte base médica, e muitos dentistas são chamados de “Doctor” como os médicos.
Reino Unido
• Os dentistas fazem um curso chamado Dental Surgery, mas em universidades médicas.
• Trabalham próximos ao sistema público de saúde (NHS), ao lado de médicos.
Alemanha
• A formação odontológica está ligada à faculdade de medicina, e o dentista pode ter o título de Dr. med. dent., equivalente a “doutor em medicina dentária”.
Nesses países, a odontologia é vista como uma especialidade médica, muitas vezes pela forma como o sistema de saúde é estruturado e como a medicina é organizada.
Por Que Isso Acontece?
1. Visão Integrada do Corpo Humano
Em países onde odontologia faz parte da medicina, há uma cultura mais forte de enxergar o corpo como um todo, incluindo a boca dentro do sistema médico completo. Assim, a formação médica e odontológica é mais interligada.
2. Sistema de Saúde Unificado
Muitos desses países têm sistemas públicos de saúde unificados, onde o dentista atua junto com o médico em hospitais, clínicas e unidades públicas. Isso facilita que sejam vistos como parte da mesma estrutura.
3. História acadêmica e tradição
Em alguns países europeus, a odontologia nasceu dentro das escolas de medicina, como uma subespecialidade, e com o tempo foi ganhando autonomia, mas sem romper totalmente com a medicina.
E No Brasil, Por Que o Dentista É Separado do Médico?
A odontologia no Brasil tem uma trajetória independente da medicina desde o final do século XIX. As primeiras faculdades de odontologia surgiram com currículos próprios, separadas da medicina, e com identidade própria.
Além disso:
• A complexidade técnica da odontologia exigiu, desde cedo, uma formação específica e intensiva;
• A profissão cresceu de forma autônoma, com conselhos profissionais separados (CROs para dentistas, CRM para médicos);
• O Brasil criou especialidades odontológicas únicas, como ortodontia e implantodontia, que se tornaram altamente desenvolvidas e valorizadas.
Hoje, o cirurgião-dentista brasileiro é reconhecido como um profissional de saúde independente, com legislação própria, responsabilidade técnica e autonomia para diagnóstico e tratamento.
Modelos Diferentes, Resultados Iguais?
Nem sempre. Cada modelo tem vantagens e desafios:
Modelo “Odontologia como Medicina” (ex: EUA, Alemanha):
Vantagens:
• Maior integração com médicos;
• Atendimento hospitalar mais comum;
• Reconhecimento do dentista como médico da saúde geral.
Desvantagens:
• Formação mais longa e cara;
• Odontologia pode ser vista como “menos importante” dentro da medicina.
Modelo “Odontologia independente” (Brasil, América Latina):
Vantagens:
• Formação direta, focada e especializada;
• Fortalecimento da profissão de cirurgião-dentista;
• Grande autonomia de atuação.
Desvantagens:
• Falta de integração com médicos em algumas situações;
• Desvalorização da importância da saúde bucal como parte da saúde geral;
• Atendimento hospitalar ainda limitado para questões odontológicas.
E o Que Isso Significa Para o Paciente?
Para você, paciente, o mais importante não é se o dentista é “parte da medicina” ou não. O essencial é:
• Que o dentista tenha formação de qualidade;
• Que haja um olhar integral para o paciente, considerando saúde geral e bucal como uma coisa só;
• Que médicos e dentistas trabalhem juntos quando necessário (como em casos de doenças crônicas, tratamentos oncológicos, cirurgia bucomaxilofacial, entre outros).
Felizmente, muitos dentistas brasileiros já adotam essa visão integrada da saúde, trabalhando em parceria com médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e outros profissionais.
Conclusão: Dentista é Médico da Boca?
Sim e não.
Depende do país, da cultura, da legislação e da forma como o sistema de saúde está estruturado.
Mas independentemente disso, o dentista é um profissional da área da saúde que domina profundamente a anatomia, fisiologia, patologia e tratamento de toda a região bucal e facial. Ele é essencial para sua saúde geral, seu bem-estar, sua autoestima e até sua alimentação.
No Brasil, a odontologia é uma profissão independente, mas não isolada. A tendência moderna é integrar os saberes e enxergar o paciente como um todo.
E você, como paciente, só tem a ganhar quando seu dentista trabalha com conhecimento, respeito à sua saúde global e parceria com outros profissionais. Afinal, a saúde começa pela boca, mas não termina nela.